quinta-feira, 9 de junho de 2011

É só uma "vezinha"

Você chega ao buffet e logo uma moça vem para te recepcionar.

Ela tem nas mãos uma prancheta. Acho que é para anotar o número de crianças que vão tentar envenenar durante a festa. Daí ela pensa: Menos um pestinha no mundo!
Ah, não! Minha esposa está aqui dizendo para eu deixar de ser ruim, pois a moça está ali é para conferir se a pessoa está na lista de convidados. Eu poderia pensar outra coisa? Só dão porcaria para as coitadas das crianças. As inocentes vão todas felizes para a festa. Ficam contando as horas. A minha filha então...
A gente senta e vem logo um garçom colocando uma cestinha com salgadinhos sobre a mesa.
Olhe que maravilha! Carboidrato refinado frito no óleo superaquecido. Cheio de gordura trans e calorias mil. Besteira... é só uma “vezinha”.

A seguir vem outro garçom oferecendo refrigerantes. Alguém me diz: Deixa disso! É refrigerante zero. Oxe! Mas é justamente isso que eu estava dizendo. Nota zero mesmo! Não serve para nada. A única coisa que o refrigerante tinha, que prestava pelo menos para dar energia para quem o toma, era o açúcar, que neste caso, foi substituído por adoçantes.
Fora os outros “ante” como o acidulante, antioxidante, conservante...
Mas a guerra para eliminar os pequenos seres do planeta não acaba por aí.

Vou dar uma voltinha e vejo uma barraquinha com cachorro-quente. Ou seja, salsicha. E usam a pior delas. Aquela bem vermelha que é riquíssima em sal e tem o dobro do teor de gordura da salsicha de frango. Sem falar no corante. Mas é a mais barata e numa festa dessas, que se gasta muito, devemos economizar. E depois... é só uma “vezinha”.
Então, vejo uma moça preparando algodão-doce, que nada mais é do que açúcar puro derretido no calor para depois transformá-lo numa teia. É uma espécie de açúcar “felpudo” que é colorido artificialmente. Claro! Tem que colocar corante, senão não faz tanto mal assim para as pequenas vítimas.

Voltando à mesa, passo pelo crepe e pelo carrinho de pipocas, aliás, é a única coisa que se salva caso não exagerem no sal e na manteiga. Tem churros também - outra bomba cheia de gordura trans - lambuzada no açúcar e, achando pouco, ainda recheiam com doce de leite. Já sei, já sei. É só uma “vezinha”.
Melhor mesmo é ir embora dessa festa. Antes, porém, temos que pegar a lembrancinha.
A lembrancinha é um saco de meio quilo (imagine se fosse “lembrançona”) cheio de porcaria. Mas eu descobri porque batizaram com esse nome. É para lembrar a quantidade de porcaria que seu filho comeu na festa. Faz sentido.
Balas de morango, coco, abacaxi, banana, maçã e maracujá. Detalhe: tudo sem data de validade. A mãe da coleguinha da minha filha diz: É de fruta! Eu mereço, né? Pelo menos ela não disse que era só uma “vezinha”.
No saco também tem um pirulito gigante com setenta e oito cores, goma americana (Deus sabe o que é isso), jujuba, paçoca de amendoim e chiclete com recheio líquido.
Biscoito, chocolate, pirulito (Ah! Esse é só de uma cor), e aquela pipoca que mais parece um isopor. Mas eu não vou ser tão radical assim e vou descrever os dois maiores argumentos da defesa. São eles: “festinha é só uma vez na vida” e “você nunca teve infância?”.
Eu quero saber onde está escrito que na infância temos que comer esse lixo todo. Viciam as crianças e depois querem mudar seus hábitos.
E sobre a festinha ser uma vez na vida, eu digo que a minha filha já participou, somente este ano, de quinze festas. No mínimo. Onze delas somente no meu condomínio.

Portanto, pelo amor de Deus, não me digam mais que é só uma “vezinha”.

Cláudio Lima é engenheiro de Alimentos do Instituto CENTEC.
Especialista em Alimentos e Saúde Pública e Msc em Tecnologia de Alimentos.
Apresentador do quadro semanal Inspetor Saúde da TV jangadeiro.
Para saber mais: www.professorclaudiolima.blogspot.com
inspetorsaude@gmail.com

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